Marcio Vinicius de Melo de Alvarenga
Uma bebida rica em história, diversidade e significado cultural é o café. Ele tem uma longa história que se espalhou pelo mundo, tornando-se uma das bebidas apreciadas globalmente. Vindo do fruto de um arbusto da família Ribiaceae, o cafeeiro, a partir dos grãos torrados desta planta se prepara essa bebida estimulante. Os grãos de café são as sementes dos frutos (chamados de cerejas) das plantas de café.
O café desempenhou um papel histórico e cultural nas cidades onde se encontra. Ele teve origem na África, especificamente na região da Etiópia. Sua descoberta remonta de antigas lendas dessa região, no século IX. Uma das histórias mais conhecidas que explica a sua origem é a de um jovem pastor de cabras chamado Kaldi, que observou que suas cabras estavam mais enérgicas e animadas após consumir frutos vermelhos de uma determinada planta. Intrigado com esse fenômeno, experimentou os frutos e sentiu um efeito semelhante.
Ele compartilhou sua descoberta em um mosteiro próximo e os monges utilizaram os grãos para fazer uma bebida que ajudava a mantê-los acordados durante longas de oração. A lenda é do ano 575 d.C., registrada em manuscritos do Iêmen. Assim começa a longa jornada do café como uma bebida energizante e reverenciada. No Brasil, o café é mais que uma simples bebida, é parte essencial da cultura e da economia brasileira. Não é à toa que nosso país é o maior produtor e exportador e conhecido por sua alta qualidade e diversidade de sabor. O café é um patrimônio cultural brasileiro, desde sua vinda, no século XVIII.
A semente chegou ao Brasil em 1727, trazida pelo militar Francisco de Melo Palheta, que começou plantando no estado do Pará. Logo o cultivo começou a se espalhar pelo país, especialmente em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. O clima e o solo eram ideais para o cultivo da planta.
Durante o século XIX, tornou-se o principal produto de exportação, sustentando a economia do país e financiando o desenvolvimento de infraestruturas como ferrovias e portos. Inicialmente, o trabalho escravo foi utilizado em sua produção, mas com a abolição da escravatura em 1888, imigrantes europeus, sobretudo italianos, alemães e suíços, foram trazidos para trabalhar nas plantações.
O café está profundamente enraizado na cultura brasileira: o cafezinho é um ritual diário e símbolo de hospitalidade e convivência social. Oferecer um café para os visitantes, amigos e colegas de trabalho é muito comum. E a sua produção sustenta milhões de empregos, desde os agricultores até os consumidores; e gera uma renda significativa para o país.
Existem tradições e festas em várias regiões produtoras de café no Brasil: estados como Minas Gerais e São Paulo promovem a cultura cafeeira através de eventos e festivais que celebram o café. Isso destaca a importância desse grão na vida cotidiana e na identidade cultural do Brasil.
Na gastronomia, o café brasileiro é mundialmente reconhecido por sua qualidade e sabor, com terroirs – aspectos (plantio, cultivo, colheita) que interferem no desenvolvimento do café de uma maneira única e que não se encontram em outra região – que produzem perfis únicos. Os baristas transformam essa bebida em arte com seu conhecimento profundo sobre grãos e métodos de extração. E agora: preparado para uma pequena viagem pelo mundo dos grãos de café? Vamos conhecer suas variedades!
Café Arábica
Essa variedade originou-se nas regiões montanhosas da Etiópia: a altitude do local influencia em sua qualidade e sabor. Em nosso país, ele é plantado em altitudes acima de 800m, como em Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Paraná e Espírito Santo. O café arábica possui um baixo teor de cafeína, mas pela sua complexidade de aromas, conquista vários paladares.
Café Bourbon
Da semente arábica originam-se outras variedade e o Bourbon é uma delas. Por isso, seu cultivo também tem de ser realizado em grandes altitudes. Ela tem suas raízes na Ilha de Bourbon (atualmente, Ilha da Reunião), no oceano Índico.
Esse café é conhecido por seu sabor doce e complexo, com notas de caramelo, chocolate, frutas vermelhas e avelã. Seus grãos têm boa acidez e corpo equilibrado, o que o torna muito apreciado por especialistas e consumidores. Brasil, Colômbia, Guatemala e El Salvador são grandes produtores dessa variedade.
Existem variações como o Bourbon amarelo e vermelho, que se distinguem pela cor das cerejas do café. Ambas são altamente valorizadas por suas qualidades únicas de sabor.
Café Catuaí
É um café desenvolvido totalmente em território brasileiro e é uma variedade híbrida resultante do cruzamento entre o Mundo Novo e o Caturra. Foi obtido em 1940, pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Hoje em dia, 45% das fazendas de café produzem esse tipo de grão.
O Catuaí é valorizado por seu sabor suave e equilibrado, com boa acidez e corpo. Ele pode apresentar notas de frutas, flores, mel e nozes, dependendo das condições de cultivo e do processo de torra. Devido à sua alta produtividade e qualidade, desempenha um papel significativo na economia do café no Brasil e é uma escolha popular entre os produtores.
Café Robusta
O grão de café Robusta (Coffea canephora) é altamente adaptável e resistente, tornando-se um dos mais produzidos no mundo. Comparado ao Arábica, o Robusto possui o dobro de cafeína, resultando em uma bebida forte.
Café especiais dessa variedade são muito cobiçados e o cultivo adequado pode produzir cafés de alta qualidade. As bebidas feitas com ele têm corpo pesado, notas amargas, baixa acidez e textura suave.
Café Kona
O café Kona, cultivado na cidade com o mesmo nome, no Havaí, é conhecido por suas características especiais por ser cultivado em solo vulcânico. Esse grão adquire características únicas e é considerado um dos melhores e mais caros do mundo. Seu sabor é fruta, o que proporciona uma sensação aveludada na boca.
O café não é apenas uma bebida, mas uma rica tapeçaria de história, cultura e comércio, que conecta diferentes partes do mundo. E por falar nisso, você já tomou seu cafezinho hoje?